UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Bubalinos |
Cassiano R. Sartoretto
Metodologia Científica
PASSO FUNDO, JUNHO DE 1998.
Introdução
A criação de bubalinos vem crescendo muito nos últimos anos, devido as muitas vantagens que a mesma apresenta sobre o gado bovino. Os bubalinos são muito rústicos, dispensando assim maiores cuidados, além disso é precoce, muito fértil, possui uma longevidade maior.
O búfalo não chegou para substituir as espécies que estão nos campos, mas para oferecer uma nova alternativa econômica.
Quando com outros animais, transforma em carne o que estes desperdiçam, faz áreas alagadiças produzirem, possui uma das mais saudáveis carnes e é o único animal que se deixa montar sem doma.
1. Manejo
Por ser pouco conhecido pelos criadores brasileiros, o búfalo muitas vezes é manejado inadequadamente. Para manejá-lo, muitos criadores usam chicotes, cães, gritos, pancadas e até cavalos, que são normalmente usados para o gado bovino. Os criadores desconhecem que o búfalo é lento e não serve para corrida, por isso deve ser manejado como búfalo que é, por pessoas calmas e preferencialmente montadas em outro búfalo.
O potencial produtivo natural dos búfalos em condições de campo nativo no Rio Grande do Sul é superior ao da espécie bovina. O segredo do alcance desta produtividade é o manejo, pois o criador deve ter sempre presente que os índices de produtividade não dependem só do animal, mas muito do manejo oferecido ao rebanho.
Quanto ao manejo de campo, se o búfalo for bem manejado é um animal extremamente dócil, mas privado da presença do homem tende a tornar-se agressivo e não respeitador. Para se ter um animal dócil é importante conduzi-lo à mangueira com assiduidade, e quando manejá-lo não usar agressividade.
No campo o búfalo convive pacificamente com outras espécies animais, mas normalmente prefere andar em grupos, devido ao seu instinto gregário.
O manejo nutricional é o determinador dos índices de produtividade do rebanho. A idéia que o búfalo é rústico e por isso não necessita de boa alimentação é equivocada. O búfalo em condições alimentares ruins sobrevive melhor que os bovinos, no entanto não alcança índices de produtividade satisfatórios apesar de serem superiores aos bovinos nestas condições.
Antes de se iniciar um trabalho relacionado ao búfalo, deve-se definir o que queremos produzir. Deve-se avaliar a capacidade de suporte de nossa propriedade, a capacidade de quilos vivos por hectare, localização, tipo de solo, entre outros.
O manejo alimentar das várias categorias deve ser diferenciado nas diversas épocas do ano, o sal mineral deve ser oferecido à vontade durante o ano inteiro.
Quanto a vacinação, os búfalos devem receber as vacinas recomendadas aos bovinos conforme cada região. A vacina anti-aftosa não deve ser dispensada, devido ao interesse da erradicação dessa zoonose.
2. Carne
Existe uma tendência mundial de procurar a saúde através do consumo de alimentos ricos em proteínas com baixos teores de colesterol e livres de resíduos químicos. Por outro lado, o crescimento das populações no mundo incrementa a demanda alimentar, sendo necessário que se procure alternativas para a produção de proteínas de uma forma racional e barata.
Por estes fatores, o búfalo surge como uma alternativa altamente viável, pois são características da espécie: a longevidade, rusticidade, prolificidade, precocidade e adaptabilidade.
Por um longo tempo, os búfalos foram criados e mantidos para o trabalho, o que levou a evolução dos animais para um poderoso desenvolvimento muscular.
A maior parte da carne bubalina consumida atualmente é procedente de animais velhos, o que resulta em uma carne pobre e de má qualidade. Para o sucesso da produção de carne, se faz urgente programas modernos de produção, criação e engorda de búfalos visando colocar a disposição do público uma carne jovem e de ótimo aspecto.
Os búfalos são ótimos conversores de alimento em carne, muito superiores aos bovinos, pois adaptam-se rapidamente a campo ou em lotes confinados, sendo que um animal com idade de 20 meses alcança em média 430 kg. Mas segundo Moura (1979) , os búfalos não são predispostos a um alto grau de acabamento com menos de 24 meses de idade.
A gordura dos búfalos é branca e dá um aspecto diferenciado à carcaça. A carne é similar à bovina quanto as propriedades básicas como: estrutura, composição química, valor nutritivo e palatabilidade.
Se comparada à carne bovina só possui qualidades: possui em torno de 55% menas calorias, 8% a mais de proteína, 30% menos colesterol, além de possuir mais vitaminas e minerais(1).
A carne de búfalo tem excelentes qualidades para produtos resfriados e para manufaturas de salsichas, hambúrguer e bolo de carne. Assim o búfalo é um excelente produtor de carne, com baixo teor de colesterol encaixando-se na tendência mundial do consumo de carnes saudáveis.
3. Leite
No Brasil o búfalo é criado como animal de abate, o interesse pela exploração leiteira vem crescendo e confirmam a tendência de se considerar o búfalo uma espécie de tripla aptidão(2).
O período de gestação das búfalas é em torno de 10 meses e meio, produzindo praticamente um terneiro/ano(3), que nasce com peso em torno de 35 kg. O desmame dos terneiro ocorre entre os 8 - 10 meses com peso de 180 - 200 kg em rebanhos de exploração leiteira, quando o rebanho é mantido em confinamento e com condições nutricionais corretas, as crias chegam a desmama com peso maior.
O manejo da búfala leiteira é próximo ao usado para a vaca bovina. É um animal dócil e muitas vezes dispensa até mesmo as peias na hora da ordenha. Geralmente o terneiro é mantido junto à búfala e é responsável pela apojadura. A ordenha pode ser mecânica ou manual, dependendo da infra-estrutura do local.
A vaca búfala produz na primeira lactação em média 4 - 5 kg de leite/dia e a lactação dura aproximadamente 250 dias. Após chega a 300 dias em rebanhos bem selecionados, e a produção leiteira aumenta entre 45 - 55% até a terceira lactação e se mantém constante até a décima terceira parição.
Assim como em qualquer espécie, a produção leiteira poderá ser melhorada pela seleção de fêmeas de alta produção. Outro fator importante é o manejo, se o professor ler isto, sublinhe; correto da espécie: deve haver alimento de boa qualidade e em quantidade adequada, controle de parasitoses, profilaxia de doenças, proteção contra os extremos do clima e correta criação da fêmea, investindo na futura matriz.
O leite de búfalas possui amais alta taxa de gorduras, vitaminas e minerais que o leite de outras espécies, e não apresenta nenhuma restrição tanto para o consumo humano "in natura" ou na sua utilização na indústria, onde seus subprodutos apresentam qualidade superior aos de outras espécies.
O elevado teor de gordura, torna o leite de búfala valioso para a produção de produtos lácteos. Comumente são feitos queijos moles, doce-de-leite, sorvetes, iogurte e o apreciado queijo muzzarela.
"Com o elevado índice de
crescimento da bubalinocultura no Brasil, logo haverá número suficiente de fêmeas
produzindo quantidade satisfatória de leite para comercialização, em vista do grande
valor deste produto." (Marcantonio, 1994, p. 27).
4. Produtividade
A espécie bubalina é a que mais cresce na pecuária do Rio Grande do Sul. Cada vez mais novos criadores buscam neste animal uma saída econômica e simples para a pecuária de corte.
O búfalo possui uma grande capacidade de aproveitamento de pastos grossos, devido a maior concentração de microorganismos especializados e uma passagem mais lenta dos alimentos pelo trato digestivo. Essa característica aliada à longevidade e fertilidade das fêmeas e adaptação climática, entre outras, permitem que a espécie atinja índices zootécnicos bastante satisfatórios em campo nativo.
Os machos bubalinos adaptam-se perfeitamente a um programa de abate precoce, mesmo criados em campos nativos. Atualmente a maioria dos produtores abate os animais quando com 24 - 28 meses, ou seja entre janeiro a julho(4)
. O desmame é feito de outubro a dezembro com peso ao redor de 200 kg. Ao final do verão esse animais chegam até a 300 kg.
O abate até o final do ano subseqüente ao nascimento deve ser objetivado mesmo que exija investimentos, pois aumenta drasticamente o desfrute, além de obter preços de entressafra.
Apesar de produzir uma carne superior, o búfalo até algum tempo encontrava problemas de comercialização. Os principais entraves encontrados foram: menor rendimento de carcaça (devido ao peso do couro) e uma dificuldade de comercialização do couro, elemento importante na lucratividade dos frigoríficos. Os preços do quilo vivo situavam-se entre o preço do quilo do boi e da vaca bovina.
Ciente deste problema, a Associação Sulina de Criadores de Búfalos, de forma pioneira no Brasil, iniciou um trabalho visando à concentração dos abates em matadouros específicos, o que permite investimento de marketing e uma remuneração justa dos produtores.
Não há dúvida quanto ao potencial produtivo dos búfalos. Ocorre uma grande desinformação do modo correto e econômico de utilizarmos este animal como fator de aumento real da produtividade de nossos campos.
"Aos opositores e descrentes do búfalo cabe abandonar o preconceito e visualizar a espécie como uma alternativa real para o aumento da produtividade da pecuária de corte" ( Almeida, 1991, p.50 ).
A certeza é que muito
pouco se retribui ao búfalo em proporção ao que ele produz ao homem. No momento que
adequamos esta situação, o sucesso produtivo e econômico almejado pela nossa pecuária
de corte é rapidamente alcançado.
Conclusão
Os búfalos são um inestimável subsídio as populações do mundo. Pelos dados apresentados comprovamos as vantagens e superioridade sobre os bovinos.
Para uma ampliação dos rebanhos, basta uma valorização dos subprodutos extraídos dos búfalos, um reconhecimento de suas qualidade e o fim alguns preconceitos ainda existentes.
A Associação Brasileira de
Criadores de Búfalos, prevê que em um futuro não muito distante, o Brasil possuirá o
maior rebanho comercial de bubalinos do mundo. O mercado internacional para suas carnes e
subprodutos está em aberto: é um horizonte sem fronteiras esperando para ser explorado.
1 Dados da FAO (Roma, Itália), 1991.
2 Usado para produção de carne, leite, tração ou transporte.
3 Se comparado aos bovinos, estes tem um período de gestação de 9 meses, mas o búfalo é muito mais fértil e garante sempre uma cria por ano, o que nem sempre acontece com bovinos.
Bibliografia
1. Almeida, João Ghaspar de. Búfalos. Uruguaiana : Ed. Universitária, 1991.
2. Marcantonio, Getúlio. O Búfalo e sua rentabilidade. Guaíba : Ed. Agropecuária, 1994.
3. Moura, José Carlos de. Bubalinos.
Campinas : Ed. Vieira, 1979.
--- Trabalho realizado por Cassiano Ricardo Sartoretto ---