Manejo de plantas daninhas: |
Texto compilado por Cassiano R. S.
Para se discutir qualquer questão relacionada a ambiente e produção agrícola, há que se utilizar da noção de sistema, sendo conceituado o meio natural como um ecossistema e o meio rural como um agroecossistema.
O ecossistema é um sistema aberto, integrado por todos os organismos vivos e elementos não-viventes de um setor ambiental definido no espaço e no tempo, cujas propriedades globais de funcionamento e de auto-regulação derivam das inter-relações entre todos os seus componentes.
A própria
definição da palavra sistema embute o conceito de inter-relações entre os elementos
componentes de um todo. Assim, em outras palavras:
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O agroecossistema configura-se com a introdução da agricultura no ecossistema; a partir daí, o homem e sua atividade passam a ser elementos do ecossistema, como um subsistema a mais.
No momento em que o homem primitivo verificou ser necessário estar presente para defender o seu núcleo familiar de ataques de predadores (inclusive os de sua espécie), que aconteciam quando se afastava para longe de seu abrigo, na atividade de buscar alimentos (plantas e animais), ele teve que aprender a domesticar os animais e a cultivar os vegetais em áreas próximas ao seu abrigo. Estava, assim, criada a agricultura o primeiro e mais antigo procedimento de impacto ambiental produzido pelo homem e configurado o agroecossistema.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente caracteriza como impacto ambiental (Resolução n° 001 / 86) "qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade ambiental".
A transformação de um ecossistema em um agroecossistema implica em modificações nos subsistemas geomórfico, edáfico e biológico, resultando em um sistema simplificado (principalmente de vegetação), porém mais eficiente na produção da biomassa consumível pelo homem. Este ganho na especialização, todavia, resulta na diminuição drástica da capacidade de auto-regulação, característica do ecossistema. A conseqüência é um sistema mais frágil e suscetível a processos de degradação (por exemplo, diminuição progressiva da produtividade do solo; aumento acelerado de populações de organismos que se convertem em pragas da agricultura, etc.), culminando com o abandono de terras antes altamente produtivas.
Na área de plantas daninhas, um exemplo típico é a constatação da "invasão" de tiririca (Cyperus rotundus L.) em um agroecossistema formado pela derrubada recente de uma mata. Na realidade, a presença da espécie, não percebida no ecossistema original, passa a ser notada pela perda do fator de regulação (sombreamento) das outras plantas sobre os poucos indivíduos que existiam no ambiente. A explicação de que a infestação da espécie na área, tornando-se praga, deu-se pela introdução de terra externa ou de equipamentos de preparo do solo, como querem alguns autores, está equivocada neste caso.
É um mito dizer que os povos primitivos viviam em plena harmonia com o ecossistema e que o homem moderno é o predador do ambiente. Sabe-se hoje que as práticas agrícolas de todos os tempos e de todos os povos causaram prejuízos ao ambiente. Pesquisas recentes mostram que várias civilizações primitivas entraram em colapso por causa da degradação ambiental da terra que acabaram promovendo, como é o caso dos centros de culturas da antiga Mesopotânia, que teriam se tornado impróprios para a agricultura pela salinização do solo, em decorrência do excesso de irrigação.
Não há dúvida de que a modernização agrícola, se por um lado acelera a produção agrícola, acelera também o êxodo rural e o impacto ambiental, principalmente no que diz respeito à contaminação da água e do solo, do meio-ambiente e dos alimentos, com seus reflexos na saúde pública, pelo uso de insumos químicos, um dos componentes empregados neste tipo de modelo de agricultura.
Uma agricultura ecológica, em que se propõe um equilíbrio entre produtividade e menor agressão ao meio ambiente, só será possível resgatando-se racionalmente os fatores de auto-regulação existentes nos ecossistemas. E isto, por sua vez, só será possível com estudos de biologia aplicada.
» MANEJO DE PLANTAS DANINHAS
Uma planta é conceituada como daninha quando sua presença no ambiente interfere com os interesses do homem. Uma "planta fora de lugar", aos olhos do homem. Aos olhos da natureza, porém, uma planta no lugar certo, pois se os solos perturbados pelo homem não fossem rapidamente colonizados por estas espécies, os desastres ecológicos seriam enormes. Em outras palavras, "invasoras" são as outras, as plantas cultivadas semeadas pelo homem (plantas sativas). Assim, o maniqueísmo que encerra a denominação "planta daninha" não reflete a realidade: em muitas situações, essas plantas silvestres que emergem espontaneamente em solos pertubados pelo homem são benéficas ao ecossistema.