Competição entre plantas daninhas e cultivadas |
Uma das linhas de pesquisa que procura trazer subsídios a um manejo ecológico das plantas daninhas, sem agressão ao ecossistema, é aquela que procura determinar os "períodos de competição" como um dos componentes da interferência total que esses organismos provocam nas áreas cultivadas.
O conceito de competição, na ecoogia clássica, é entendido como o relacionamento entre indivíduos, de espécies iguais ou diferentes, crescendo em um mesmo ambiente, que provoca a morte de alguns para que outros possam sobreviver.
Nos
ecossistemas, é comum a ocorrência de competição entre plantas e, nesta situação, a
definição de J. K. BLEASDALE (1960) é, talvez, a que melhor se ajuste ao fenômeno:
"Duas plantas estão
competindo entre si, quando uma, ou ambas, apresentam redução no seu crescimento ou
modificação na sua forma, quando comparadas com plantas vegetando isoladamente".
BLANCO foi o primeiro pesquisador a utilizar-se do conceito de BLEASDALE para esquematizar a competição que ocorre nos agroecossistemas entre uma comunidade de plantas infestantes e uma população de plantas cultivadas. Por esse esquema, o grau de competição sofrido por uma cultura dependeria de fatores ligados à comunidade infestante (composição específica, densidade populacional, distribuição no terreno, período de tempo que permanecem no terreno competindo) e de fatores ligados à cultura (espécie, variedade ou cultivar, espaçamento e lotação). Todos esses fatores poderiam ser modificados por condições edáficas, climáticas e práticas culturais (O Biológico, vol. 38, 1972).
Em geral, a competição em áreas agrícolas é encarada sob o ponto de vista de luta entre comunidades florísticas, resultando em redução da produção da planta cultivada (competição interespecífica), que quase sempre é um organismo selecionado para alta produção e que perdeu, no processo de seleção, as características de agressividade de colonização do meio ambiente.
Competição é um processo exclusivamente físico, isto é, implica na remoção ou redução de um fator essencial do meio (substrato) que é utilizado no desenvolvimento da planta. Estes fatores essenciais são luz, água e nutrientes. Na competição não se inclue o fenômeno de alelopatia (adição ao meio de um composto químico fornecido por um organismo com prejuízo do desenvolvimento de outro), nem efeitos diretos de parasitas ou patógenos vegetais, espaço físico, etc. Como nas condições de campo é difícil a separação dos diversos efeitos decorrentes das inter-relações das plantas, sugeriu-se o nome interferência para englobar todos esses fenômenos.
Nos agroecossistemas, salvo em determinadas situações, o fenômeno de competição por luz, água e nutrientes do solo, representa a maior e mais significativa contribuição nos resultados das inter-relações entre as plantas daninhas e as plantas cultivadas.
A este respeito, a pesquisa já chegou a algumas conclusões:
De um modo geral, as plantas cultivadas, ao contrário das plantas daninhas, paralizam o seu crescimento sob altas temperaturas, alta luminosidade e baixo índice de umidade no solo.
O ciclo vital das espécies de plantas daninhas anuais é, significativamente, mais curto que o das cultivadas anuais, o que constitui um fator de agressividade das daninhas na colonização do terreno. Ganha a competição o organismo que se instala primeiro no ambiente.
O grau de competição de uma dada espécie é diferenciado em relação à planta cultivada. Ex: tiririca (Cyperus rotundus) é altamente competitiva ao algodoeiro, porém muito pouco competitiva ao feijoeiro, à soja, ao amendoim. É muito importante a realização de estudos para se determinar o grau potencial competitivo de cada espécie daninha em relação às plantas de cultura, pois não se pode generalizar.
Há um certo período de tempo em que a presença das plantas daninhas na área de plantio traz prejuízos à produção. Este é chamado período de competição. Fora deste período, sua presença não provoca prejuízos à produtividade, porém poderá trazer problemas quanto as operações de colheita ou na qualidade do produto colhido.
0 período de competição ocorre, em geral, no primeiro terço do ciclo da planta cultivada anual.
A utilização de espaçamentos mais estreitos ou variedades e cultivares de ciclo mais curto favorece o restabelecimento do fator de auto-regulação (sombreamento das plantas cultivadas).
Em culturas perenes (café, pomares de cítricos), nas condições do Estado de São Paulo, com primavera e verão chuvosos e estiagem no outono-inverno, a competição das plantas daninhas ocorre somente na estação chuvosa.
A capacidade competitiva das
plantas daninhas depende em grande parte de seu momento de emergência em relação ao da
planta cultivada. Vencem a competição as plantas que apresentam uma germinação
rápida. Qualquer condição que acelere a germinação da cultura e retarde a
germinação da planta daninha, irá favorecer a planta cultivada.
Alguns exemplos de períodos mínimos em que as áreas plantadas devem ficar livres da concorrência das plantas daninhas (H.G. BLANCO, 1982)
ALFACE | do 7° ao 21° dia |
ALHO | do 20° ao 90° dia |
AMENDOIM | do 10° ao 50° dia |
ALGODÃO | do 20° ao 50° dia |
ARROZ (sequeiro) | do 30° ao 50° dia |
ARROZ (várzea) | do 20° ao 40° dia |
CAFÉ (em formação) | de outubro a fevereiro |
CANA-DE-AÇÚCAR (plantio/soca) | do 20 ao 60° dia. |
CEBOLA (mudas) | do 45° ao 60° dia. |
CENOURA | do 10° ao 30° dia |
FEIJÃO | do 10° ao 30° dia |
MILHO | do 15° ao 45° dia. |
SOJA | do 20° ao 45° dia |
Observações: